domingo, 11 de fevereiro de 2007

Dor e Sofrimento: Por quê?


O homem convive constantemente com a dor. Não há como fugir dela. O corpo humano é extremamente adaptado para sobreviver à ampla adversidade existente em nosso meio. A dor é uma característica de defesa do corpo. Há um verdadeiro aparato altamente eficiente para alertar o corpo de um perigo. Imaginemos se não existisse uma gigantesca rede de nervos sensitivos no nosso corpo. Imagine você apoiando a mão distraidamente em uma chapa de ferro quente e não sentindo dor alguma. Em poucos minutos, quando percebesse o perigo, a lesão poderia ser muito séria e provavelmente a vida estaria em risco. Entretanto, após uma pequena picada de um inseto, vem a repulsa imediata, visando evitar danos maiores.
Quanto ao processo físico da dor, tudo bem: ela é mesmo necessária. Mas por que a dor causa tanta angustia, sofrimento, desequilibro, chegando ao extremo de se desejar a morte? Há também as intensas dores crônicas, como as dores de cabeça, muitas vezes sem causas aparentes e que podem perdurar a vida toda. Há a fome, a miséria, o frio. O fato é que repudiamos a dor e não gostaríamos de tê-la constantemente, ou mesmo esporadicamente, ao nosso lado. Será que o corpo físico não poderia ter um outro sistema de alerta que não precisasse da dor?
O que pensar ainda das dores físicas e morais provocadas pelo próprio homem com brigas, crimes brutais, torturas, etc.? Li um livro sobre as muitas atrocidades e barbáries ocorridas durante a segunda guerra mundial com o assassinato de milhões de Judeus. É difícil entender tamanha brutalidade do ser humano capaz de produzir tanta dor e sofrimento. A revista Veja da semana passada, mostra outro exemplo horripilante. Traz uma reportagem sobre o filme da vida de Idi Amin, presidente do país africano, Uganda, durante o período de 1971 a 1979. Foram atribuídas a ele de 300 a 500 mil mortes! Infelizmente a violência está ainda em toda parte.
E a dor moral que aparece constantemente na vida sob as mais variadas formas? Aquelas dores provocadas pela morte de entes queridos, como pais, filhos, esposas, maridos, irmãos, amigos e outros. As causadas por desgostos gerados pela convivência entre pessoas que não se gostam. A dor da ofensa, da humilhação, da discriminação e do preconceito. A de não poder fazer aquilo que se deseja. A falta de apoio em momentos difíceis, etc. Realmente nunca se está livre dela, mais ou menos forte. A dor moral surge com a própria convivência em sociedade. Por que ela existe? Qual a relação da dor moral com a dor no corpo físico?
Ao analisar a vida de modo restrito à nossa convivência na Terra, ficamos limitados a aceitar as coisas como elas parecem ser. Certeza há de que todo efeito tem uma causa, pois a natureza é perfeita, fruto do Divino Criador. Portanto, se algo existe é porque participa da perfeição da vida. Uma boa forma de se evitar a dor e o sofrimento é a fé inabalável na progressão infinita da vida eterna com a confiança em Deus, que é sempre justo e bom. Ora, se o progresso espiritual é fator intrínseco da Lei de Deus, a lógica nos leva a crer que o sofrimento está ligado à inferioridade do homem. Quanto mais evoluído menor a dor e o sofrimento e maior a felicidade. Porém não se pode avaliar o nível de evolução espiritual de cada um com base apenas no sofrimento temporário. O Espírito é eterno e segue longo caminho pela vida.
Somente a progressão eterna é capaz de nos ensinar que devemos passar por todos os sofrimentos com muita força e sabedoria, transformando cada passagem difícil em fonte viva de aprendizado, rumo a um futuro melhor. Refletir e reconhecer erros que podem ter sido cometidos em vidas muito remotas. O fato é: aquele que produzir qualquer forma de dor e sofrimento por menor que seja, estará sujeito, pela Lei Divina, as mesmas formas adversas que provocar e de acordo com a intensidade do prejuízo que causar. O tema sobre a dor e o sofrimento é muito amplo com inúmeras variáveis. Mas de fundamental relevância que só tempo pode nos ensinar a viver melhor. Devemos sempre buscar o melhor caminho a seguir, lembrando que “a cada um, segundo as suas obras...”

domingo, 21 de janeiro de 2007

O que é o Espiritismo?


A vida na Terra é algo intrigante e maravilhoso aos nossos olhos, da mesma forma que a natureza e a beleza infinita do universo. A primeira forma de vida no planeta surgiu há 3,5 bilhões de anos com as bactérias. Elas estão entre nós até hoje como resultado da fantástica adaptação ecológica e constituem a quantidade impressionante da metade da biomassa na Terra. Os seres multicelulares (animais) surgiram há cerca de 600 milhões de anos e os primeiros antepassados do Homem (Homo sapiens) há aproximadamente 5 milhões de anos. Mais intrigante ainda, é saber que o número de espécies existentes hoje, cerca de 30 milhões, representa apenas 1% das mais de 3 bilhões que já povoaram a Terra. Por que espécies aparecem e são extintas? A resposta fica mesmo a cargo da dispendiosa evolução natural para sobrevivência às modificações do meio.

Geneticamente, o Homem possui cerca de 30 mil genes, sendo o mesmo número de genes que o camundongo. Mais interessante ainda é que todas as diferenças existentes entre nós e os camundongos ocorrem devido à apenas 300 genes.
Assim, do ponto de vista da matéria, as diferenças entre as espécies são pequenas e são meras necessidades de adaptações para sobrevivência em ambiente hostil e competitivo. Mas e do ponto de vista espiritual? Aí sim, as diferenças são enormes. Cada ser humano apresenta inúmeras diferenças no comportamento, no pensar, gostos, etc. Não há dois indivíduos idênticos. Nós somos seres individuais. O desfio da ciência é entender isso do ponto de vista genético. Desse ponto, não há saída a não ser pesquisar a vida espiritual, pois é no espírito que está a causa desses efeitos.

Nesse ciclo evolutivo do Homem, o fato real é que cada ser humano, nasce como fruto da formação do corpo humano, cresce, envelhece e morre. Com que objetivo? A vida, dada a complexidade das relações entre os seres humanos, animal e vegetal e o meio ambiente, tem que ser de extrema relevância de alguma forma.

O mundo espiritual é a chave do entendimento maior. A busca constante do conhecimento da vida é tarefa dignificante e desejável, tendo em vista o grande efeito benéfico que isso representa para a própria sobrevivência do homem no planeta. Religiões surgiram com esse princípio, com o propósito de ligar o homem ao plano espiritual.

O espiritismo surgiu na França em meados do século XIX como filosofia de vida; como ciência que define a existência da continuidade da vida após a morte e das relações entre os planos de vida terrestre e espiritual e como religião que trata do caráter moral dos homens e de sua convivência em sociedade integrado ao meio ambiente. Neste aspecto, mantém o caráter de espiritismo cristão, já que compreende perfeitamente os ensinamentos deixados por Jesus Cristo, com os esclarecimentos das parábolas do Evangelho com base na visão da continuidade da vida após a morte e o processo de reencarnação.

Allan Kardec, o homem encarregado de codificar a doutrina espírita sob a luz da Espiritualidade Maior, ao iniciar os seus estudos sobre espiritismo e perceber que a existência de espíritos, que nada mais são do que os próprios homens que habitaram a Terra ou não, em diferentes corpos, mantendo diferentes graus de capacidade intelectual e moral, compreendeu que o simples fato da existência de outro plano de vida e a possibilidade de contato entre eles já era algo de imensa relevância com implicações fundamentais nas relações entre os homens.

O espiritismo é, portanto, ao mesmo tempo filosofia, ciência e religião que tem por objetivo colocar o homem em constante reflexão em busca de um caminho melhor para a sua evolução espiritual rumo à felicidade eterna. Infelizmente, como sempre aconteceu com muitos que se propuseram em missões semelhantes, o espiritismo sofreu e sofre fortes preconceitos infundados ou por ignorância ou por interesses diversos. Mas o seu crescimento é incontestável e representará fundamental papel na evolução espiritual do planeta Terra no futuro, contribuindo para a harmonia universal dentro da Lei de Deus. Cabe a nós, os obreiros do bem, dar uma pequena parcela nesse processo.

A filosofia espírita pode ser resumida pelos seus princípios fundamentais proferidos em discurso por Allan Kardec e publicados na Revue Spirite. "Crer num Deus todo-poderoso, soberanamente justo e bom; crer na alma e na sua imortalidade; na preexistência da alma como única justificativa da presente existência; na pluralidade das existências como meio de expiação, reparação e adiantamento intelectual e moral; na perfectibilidade dos seres mais imperfeitos; na felicidade crescente com a perfeição; na remuneração eqüitativa do bem e do mal, segundo o princípio: a cada um segundo as suas obras; na igualdade da justiça para todos, sem exceções, favores nem privilégios para criatura alguma; na duração da expiação limitada à da imperfeição; no livre-arbítrio do homem, deixando-lhe a escolha entre o bem e o mal; crer na continuidade das relações entre o mundo visível e o mundo invisível; na solidariedade que liga todos os entes passados, presentes e futuros, encarnados e desencarnados; considerar a vida terrestre como transitória e uma das fases da vida do Espírito, que é eterna; aceitar corajosamente as provas, visto ser o futuro mais desejável que o presente; praticar a caridade por pensamentos, palavras e obras, na mais ampla acepção do vocábulo; esforçar-se cada dia para ser melhor do que na véspera, extirpando da alma alguma imperfeição; submeter todas as suas crenças ao controle do livre exame e da razão e nada aceitar por uma fé cega; respeitar todas as crenças sinceras, por mais irracionais que nos pareçam e não violentar a consciência de ninguém; ver enfim, nas descobertas da Ciência, a revelação das leis da Natureza, que são as leis de Deus".
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Referências:
Drauzio Varella. 2006. Borboletas da alma, Companhia das Letras, SãoPaulo, 387p.
Allan Kardec. 1868. O espiritismo é uma religião? Revista Espírita, ano XI, v. 12, dez. 1868, Edicel, São Paulo, p. 351360.